Reconstrucionismo Helênico no Brasil (RHB)
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Mitologia x Religião

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Mensagem  Álex Hylaios Dom Mar 11, 2012 2:06 pm

Oi Pessoal,

Gostaria de saber se algum de vocês já leu algo sobre a diferença da mitologia grega
para os cultos religiosos em si. A forma de devoção e tudo o mais. Me lembro de ter lido
algo sobre mas esqueci aonde... rs. Lembro que até citava o exemplo de Zeus; que no mito
ele é uma figura essencial e tudo o mais, e no culto cotidiano, as preces e práticas voltadas
para ele, não tinham a mesma magnitude(por falta de palavra melhor) que suas aparições nos
mitos.

Fico no aguardo.
Abr
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Mensagem  Alexandra Sáb Mar 17, 2012 10:20 am

Vou citar pra você um trecho do livro "A Religião Grega", de Fernand Robert (http://www.helenos.com.br/Home/artigos/sobre-os-festivais):

Não se deve tomar a religião como exclusivamente mitologia, a verdadeira religião não se encontrava apenas nas histórias, ela estava nos ritos, nos mistérios. O mito por si só seria incapaz de inspirar fé. Ele está ligado a um fenômeno cíclico da vida. Ninguém pode negar a afinidade de Zeus com o trovão ou de Deméter com a agricultura. Além disso, a expressão religiosa não se encontra primordialmente na literatura. A religião não está no que se conta, mas no que se faz. Enquanto as mais belas histórias da mitologia viram-se logo abaladas pelas reflexões dos filósofos, a religião antiga permaneceu inabalável, a observância de ritos sempre foi garantia de bons resultados (por exemplo, uma boa colheita) e o não-cumprimento dos mesmos era sinônimo de escassez (como fome, doença). O sagrado, por um tempo invisível e impessoal, toma forma nas representações humanas dos deuses. Se Atena fez Sócrates beber a cicuta, não foi porque ele se recusava a acreditar na mitologia divina, mas porque ele punha em perigo os cultos da cidade, ou seja, os atos, cerimônias, procissões e festas que protegiam os habitantes contra possíveis más conseqüências.

Quanto a estrutura do clero, há nos diferentes santuários vários sacerdotes. Alguns o são por toda a vida, outros exercem a função apenas por um ano. Os sacerdotes não têm uma doutrina na qual se formam, não há um dogma. Eles executam os atos do culto, mas não propagam ensinamentos. Há famílias sacerdotais providas de funções hereditárias, particularmente nos cultos de mistérios (como os Mistérios Eleusianos), e algumas conseguem manter mistérios muito seus, com suas próprias tradições, sem misturar com a do poder civil. Em certos santuários, nessas famílias, e nas associações de culto (thiases) conservam-se narrativas orais secretas, que eram locais, não havia uma doutrina comum a todos os gregos.

Essa ausência de dogma, de doutrina, de clero como classe social, de livro sagrado, é o que faz normalmente relacionar a religião com a literatura. As obras de Homero, Hesíodo, Virgílio etc, nunca foram tomadas como livros sagrados. Ninguém era obrigado a crer no que elas dizem dos deuses. Tanto os poetas como os artistas muitas vezes trabalham para os santuários, freqüentam suas festas, compõem hinos para elas. Ou seja, eles eram atuantes nos cultos, não retratadores dos mesmos. Ninguém fixou ou editou o que se deve fazer ou no que se deve acreditar.
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