Ensino religioso - helenismo & crianças

Sei que pro resto do fórum talvez isso não faça muito sentido. Mas eu estou começando a passar por situações complicadas. O fato é que meu filho vai fazer 5 anos, tem duas tias evangélicas, uma avó católica e logo vai entrar na escola. E eu me vejo pensando em como "rebater" essa influência. O André vê a questão dos deuses com naturalidade, mas por uma questão bem simples, de que encontro muito material para crianças sobre o hinduismo, ele tem mais familiaridade com Krishna e Rama do que com metade dos deuses gregos.
Procurando atividades para usar com meus alunos na escola achei bilhares de coisas que inegavelmente são fofas e mega bacanas que os cristãos usam nas escolas dominicais e catecismos. Atividades, textos, jogos, brinquedos de papel, cartões, tudo pensado para evangelização infantil.

Eu estou com dois projetos voltados para crianças por causa disso. Um é de um material mais "ecumênico" dentro de uma visão neopagã que tbm agrade aos druidas, helenos, e outros qe tem uma visão mais "recon".

O outro é de um material mais pessoal mesmo para usar com o meu filho e disponibilizar para outros pais helenos (pensei inclusive em traduzir pro inglês posteriormente). Tanto de produção de material próprio como adaptação e coisas existentes (estou pegando várias imagens de deuses para colorir, além de algumas idéias de sites voltados para crianças wiccanas que vou adaptar)

O que vcs sugerem? Toda ajuda é bem vinda...

muito legal a proposta, essa é uma questão com aqual também vinha me martelando e trabalhando há algum tempo com meus alunos na pré-escola (exatamente a idade do seu filho). Enquanto estive na creche pude experimentar bastante, com os mais diversos panteões (sem favoritismos, neh? do mesmo jeito que eu não queria que meu filho fosse educado num sistema católico ou kemetista, eu também não faria isso com os filhos de qem quer que seja). Passei por algumas experiências e nelas pude aprender coisas que podem funcionar e coisas que apesar de muito legais, pras crianças não fazem qualquer sentido. Mas enfim... pode contar comigo. Estou aqui pro que precisar.

eu vou querer essa ajuda sim... =)

aliás, me dê sugestões, rs

Bem, eu posso tratar mais do campo escolar que é onde tenho experiência. Em casa eu posso te dar alguns direções que pra mim são ideais, mas como mãe você saberá melhor que eu

Vou colocar algumas aqui e podemos ir discutindo e construindo isso melhor com o tempo.

Antes de Chegar na Escola

Toda escola deve ser isenta de ideias religiosos, mas na prática não é assim. Também precisamos entender que a escola não pode advinhar que tem um filho que faz parte de uma minoria religiosa, e muitas vezes por falta de sensibilidade ou qualquer coisa que seja, quando sabe disso, imagina que 'por todos os deuses serem o mesmo deus' (típica filosofia falsamente construída e sem fundamento) e que esse suposto deus prega apenas coisas boas, não há problema algum. Então a primeira coisa é chegar na escola, conversar com a diretora e com a professora se ela já for nominada a respeito da situação. Não recomendo que você peça um tratmaneto especial pro seu filho, até porque isso desvirtua o ideal de estado laico e constrange a professora. O mais indicado é que você ao conversar com a professora peça a ela que por esses motivos ela evite certas práticas comuns a uma tradição relgiosa favorecendo-a em detrimento de outras. Então você pode sugerir (se ela se mostrar aberta, pra não que você não lhe parça a 'dona da escola') que ela trabalhe com a diversidade, fazendo com que cada triança traga suas idéias de casa, histórias que são comuns a família e à essas tradições religiosas e que o trato entre elas seja indiferenciado. Também pode contribuir emprestando material pra que ela possa saber do que se trata, e ter mais conhecimento e tato ao abordar o tema. Em suma, tudo começa por aqui, e o segredo pode estar em se estabelecer uma relação amistosa e de coleguismo e presença na escola.

Espero que a escola de seu filho não seja daquelas que oferecem primeira comunhão, há exclusão quando poucos alunos escolhem não fazer.
Gostei muito das ideias do Thiago.

Pois é, LEGALMENTE, se a escola é´pública ela não pode constranger o alunado pra esse tipo de atividade. E se for privada ela tem que deixar claro nos seus estatutos e apresentá-los aos pais que a escola adota tais e tais atitudes com relação à suas abordagens de ensino.

Um dos motivos de querer o pequeno na escola pública é justamente o direito de ensino laico.

o pessoal wiccano tem um material para entregar para a escola, uma "cartilhinha" (que quando eu era wiccana eu traduzi, hihihi, minha tradutosca ainda corre pela net pagã a fora), que eu estou trabalhando em cima para fazer uma voltada para o helenismo. Ainda que a minha tradutosca tenha tentado ser o mais "ecumênica" em termos de paganismo, ainda é centrada na wicca.


Mas isso é fundamental, mesmo - professores não tem bola de cristal. Aliás, todas as pessoas do nosso convívio. Eu tenho aprendido muito a expor a questão com as pessoas do meu convívio, do tipo "eu não sou cristã, e gostaria que vc evitasse atitude XYZ comigo porque ela é ofensiva ao meu credo". Na maioria das vezes é uma abordagem que funciona.


Mas e com as crianças propriamente dito? Como falar de helenismo para nossas crianças? =)

Eu acredito piamente que as crianças são idôneas de preconceito até certa idade. E se elas o têm é porque os pais ou a comunidade em que ela está inserida expõe esses conceitos na sua forma de ser e mostrar o mundo, e as crianças naturalmente os absorve. Eu pessoalmente gosto de trabalhar com as crinças de diversidades religiosas por meio do compartilhamento de histórias sem favorecer qualquer coisa que seja, até porque do meu ponto de vista, se a escola tem alguma obrigação além do ensino formal, é a formação ética, e com isso as religiões podem contribuir. Então eu seleciono histórias que possam abordar os valores que eu acredito serem necessários, e contando essas histórias eu dou espaço pra que elas recontem suas experiências de vida e assim os outros e elas mesmas possam perceber a diversidade da coisa e respeitá-la, e acredite, a criança aprende isso mais fácil que o adulto ou adolescente. O que acontece é que vc não pode favorecer uma em detrimento da outras, o que geralmente acontece quando se tenta trabalgar com diversidade, porque pesquisar N coisas de Cultura Y é mais fácil do que Ns coisas de Culturas A, B, X e Y. Ou o que é bem pior do meu ponto de vista, tenta-se trabalhar essas culturas sob uma ótica estereotipada, assim você contempla muitas, mas de forma muitas vezes errônea. Uma coisa que eu promovi quando trabalhava em creche era o dia da família Uma Dia no mês a família comparecia à creche pra trocar experiências e participar da rotina dos filhos. Foi assim que uma vez os celebramos durante as Thesmophorias de 2008 uma festa pra Ártemis protetora das Crianças, em que as meninas representaram danças gregas, outra turma danças indígenas, os alunos exporam brinquedos criados por eles, mitos de deusas e figuras protetoras das crianças ( da Virgem Maria, passando por Nanã até uma surpreendente Brigit, sem falar naqueles que foram trabalhados na sala)... Eu acho que qualquer atividade que se propunha a ter como centro o diverso tem que partir desse presuposto que:
1 - o respeito nasce da clareza e no compartilhamento das experiências e visões do mundo
2 - No caso da escola, o professor não é obrigado a conhecer profundamente todas as formas de ver o mundo exposto no mundo cultural e religioso dos seus alunos, mas ele pode possibilitar que seus alunos mostrem para seus colegas e membros da comunidade como é essa sua visão.

Aqi tem algumas fotos dos trabalhos que realizei com os alunos, da creche tenho poucos, mas do Ensino Fundamental tenho alguns. Aí seguem:

Exposição de desenhos (neste dia o tema era como cada um via a natureza, se ela era divina ou não, e também qual é o nosso lugar no meio dessa divindade)



Contação de Histórias (revendo os papéis de 'personagem bom' e 'personagem mau')



Enfim, no meu trabalho como educador eu tento com relaçao à essas questões sensíveis nunca ser um impositor de idéias, por mais altruístas que elas sejam. Eu trilho meu caminho por ser um mediador e possibilitar que cada um construa essa relação de respeito e relação com o sagrado, de acordo com suas demandas e com certos princípios éticos fundamentais.