Miasma

Pelo que eu entendi pelos excelentes posts da Alexandra e da Filhotedelua (Sarah não é?), Miasma é poluição, não pecado, e pode ser purificado por catarse e por água lustral, como exemplificado no site.
Entendo o que é, porém me falham entender umas coisas.

Se nascimento causa miasma, porque?
E como um Deus como Artemis pode aliviar as dores do parto se Deuses se ofendem com miasma?

Morte, porque causa miasma?
Então mesmo que estejamos morrendo, os deuses nos abandonam pois Eles por serem imortais não podem se aproximar da morte?

Obrigada a quem puder ajudar.

Como diz lá no texto: nem a mãe nem o bebê são fontes de miasma, e sim o ato de nascer é que tem tais propriedades.

Isto acontece porque ele está muito ligado à morte e doenças (principalmente antigamente que não se esterilizava coisas e havia mais mortalidade infantil e da mãe ao dar a luz). Então Ártemis (assim como Ilítia) é deusa parteira porque ajuda a mãe e a criança, mas o nascimento em si não está livre de miasma, que no caso é um miasma do corpo, devendo ser purificado, o que é simples de se fazer.

Os deuses não se "ofendem" com esse tipo de miasma (vide lá que o "resultado de ações que desagradam aos deuses" está como uma causa diferente de miasma do que cita a causa "contato com o nascimento ou a morte natural". O miasma é uma perturbação/mudança na ordem, que precisa ser restaurada pela reciprocidade para haver um equilíbrio, e isso fazemos pela purificação.

Não sei onde você viu que imortais não podem se aproximar da morte, se fosse assim Hades não regiria o submundo nem os deuses tomariam partido nas guerras onde morre tanta gente. Eles não nos abandonam. Os gregos tinham todo um ritual com o morto, incluindo a cremação por acreditarem no fogo como elemento de purificação.

Entendo.
Li no livro Deuses da Grécia de Walter Otto, pag. 122:
"A Deusa Ártemis não pode se demorar mais com seu favorito Hipólito porque a morte dele se aproxima"

O nascimento e a morte são os momentos em que nossa mortalidade fica mais evidente. Acho que são momentos muito, muito humanos.

Agora opinião pessoal sobre partos, como quem teve um lindo e totalmente "Artemis, senhora, sinta orgulho de mim" parto, eu digo. É uma coisa melada. Tipo, tem um tanto de sangue, tem uma quantidade gigantesca de tecidos, líquido amniótico, suor... é menos melado do que os filmes e coisas assim fazem parecer, mas eu entendo plenamente pq aquilo é uma situação com miasma. Além do esgotamento físico e mental, e do fato de ser uma situação que definititvamente é uma perturbação da ordem.

Eu recomendo o parto natural, foi lindo, significativo e um dos momentos em que eu sentia que quase poderia tocar a presença de Ártemis ali.
Mas não dá para negar =).

_____________________________________________________________
Comparação TOSCA, muito tosca mesmo. Vc ama seu cachorro. Vc não se importa quando ele te lambe, pq é uma demonstração de amor. Mas vc se lava para não ficar todo babado, né. O miasma produzido pelas situações naturais é um pouco isso. As vezes, somos cachorrinhos empolgados com relação aos deuses...rs

Priscilla escreveu:Entendo.
Li no livro Deuses da Grécia de Walter Otto, pag. 122:
"A Deusa Ártemis não pode se demorar mais com seu favorito Hipólito porque a morte dele se aproxima"

huuuum, sabe, opinião extremamente, extremamente pessoal. Sempre que leio esse tipo de passagem eu penso em quanto quando alguém querido está morrendo, vc perde a coragem de ficar olhando. Porque é um sofrimento que vc não pode evitar... e é doloroso para quem fica. Ainda mais se vc sempre fica. Os mortais sempre se ferram no contato excessivamente íntimo com os deuses, mas os deuses tbm sofrem com as mortes de seus favoritos.

Sabe que nunca tinha visto por esses angulos, faz muito sentido mesmo.
Nunca vi um parto, por isso não sei o quanto humano é, mas parece algo bem melado agora que dissestes.

Sobre a morte, eu concordo também.

Para uma visão antropológica da questão do miasma e de tudo que se refere a pureza e impureza, recomendo a leitura do clássico livro de Mary Douglas "Pureza e Perigo" (S. Paulo, Editora Perspectiva).

Priscilla escreveu:Sabe que nunca tinha visto por esses angulos, faz muito sentido mesmo.
Nunca vi um parto, por isso não sei o quanto humano é, mas parece algo bem melado agora que dissestes.

Sobre a morte, eu concordo também.

Ricardo Mário Gonçalves escreveu:Para uma visão antropológica da questão do miasma e de tudo que se refere a pureza e impureza, recomendo a leitura do clássico livro de Mary Douglas "Pureza e Perigo" (S. Paulo, Editora Perspectiva).

Agradecemos pela dica!

Pena que eu só achei um exemplar no sebo, a 180 reais - http://www.estantevirtual.com.br/persecutalivros/Mary-Douglas-Pureza-e-Perigo-Ensaio-Sobre-as-Nocoe-31255887 *ui*

Tem tb o livro específico sobre miasma que citei no blog, mas ele está em inglês: http://books.google.com.br/books?id=zZXCfw267_AC&printsec=frontcover&dq=Miasma&ei=FybnS6G2FoSuzASOj_HxCQ&cd=1#v=onepage&q&f=false

A compreensão que eu venho tendo de miasma é a seguinte:

O miasma é um conjunto de resíduos, físicos e energéticos, que ficam impregnados em nós, mas que não nos pertencem e quando pertencem fazem parte de um outro processo que não é exclusivamente nosso. Nesse último me refiro, por exemplo, ao caso do sexo que seja através de penetração, oral ou até mesmo masturbação envolve uma energia de tensão nossa juntamente ao contato, físico ou não, com outro, até mesmo por imaginação.

Ou seja... catarse é um processo de recentralização de nossas energias conosco, sem influência das energias alheias. É como se o miasma fosse um papel celofane diante de nós quanto alguém nos vê. Essa visão não é nítida, não é, digamos assim, genuína.

Corrijam-me se eu estiver errado.