sobre a educação...

Olá,

Tenha uma dúvida...

Um resgate do "helenismo" também poderia pressupor um resgate de práticas culturais presentes na grécia antiga?

Dando um exemplo... uma educação baseada numa relação antre "erastes" e "eromenos" seria aceitável, mesmo hoje em dia? (se não souberem o que é isso, sugiro pesquisarem no wikipedia).

É só,

grato.

Olá Agaton,
como vai ?

Bem.. vejamos.. ao meu ponto de vista , a tradição religiosa helênica é muito bem fundamentada em uma base ética que se repete nas atitudes e comportamentos, e isso acaba por influenciar as manifestações culturais. Isso pode-se ver claramente nas estátuas , koés e por aí vai, Laooconte que o diga , não é mesmo ?
eu como educador e como reconstrucionista acredito que as manifestações e ideologias também são resgatas, e reconstruídas através dessa atitude,mesmo porque eu , nas minhas aulas com as crianças faço isso.

Não sei ao certo se uma relação ao tiop erastes e eromenos seria válida hoje, ao menos não da forma com ela o era na antiguidada. Somos reconstrucionistas, tentamos fazer as ciosas com o mínimo de alterações que o tempo posso permitir, porém , o próprio tempo passou e as ciosas precisam se reajustar. É isso que fazemos aqui e em nossas vidas como um todo. Não posso falar pela maioria, tampouco por todos , mas penso que compartilhem de um pensamento semelhante.

Esteja na paz dos deuse, amigo
Geia sou .

O Reconstrucionismo, ao mesmo tempo que revive a antigüidade evita ecletismos, adapta um pouco à vida atual as práticas antigas sim. Por exemplo, em vez de sacrificar um porco e aspergir seu sangue ao mar, como faziam a Deméter, se oferece milho cozido e joga-se ao mar a água do cozimento, porque sabemos que não cabe mais fazermos mal a um animal se podemos agradar aos deuses com outro tipo de lembrança sacrificial.

Como educadora, te diria que adoraria formar homens no estilo Paidea, mas com algumas adaptações também. Até porque desconhecemos totalmente o que era, já que outro dia os cientistas descobriram - por exemplo - que a mulher na Grécia Antiga não era tão submissa como se pensava, então a gente vê que algumas coisas que tomamos como certas podem nem ter sido assim.

Quanto ao pedagogo (e conseqüentemente o Erastes e Eromenos), não vejo porque ser igual se hoje há outro tipo de relação em termos de papéis dos gêneros, não cabe mais essa divisão onde os homens mais velhos ensinem homens mais novos, e há muito tempo são as mães e mulheres que vêm tomando as rédeas da educação.

Reconstruir não é retroceder a certas divisões que já não fazem mais sentido, mas sim trazer um ideal que seja bom e sirva a todos.

É uma questão um tanto subjetiva, talvez por isso tenhas colocado muito propriamente na área de bate-papo, então o que expresso é só a minha opinião.

Abraços...

fico agradecido pelas respostas,

achei interessante a diferença de opiniões entre o lado masculino e feminino.

Na resposta da Alexandra pareceu soar um pouco de um lado feminista... ou estou errado?

De qualquer forma, levantei essa questão depois da leitura de "O Banquete", de Platão, onde alguns filósofos e dramaturgos discutem o amor e consequentemente a relação que se estabelecida entre erastes e eromenos.

Minha pergunta, indo mais a fundo, passa também por uma questão de sexualidade. Os gregos tinham um outro modo de lidar com o sexo, e, embora alguns possam considerar que algumas relações fossem depravadas, perversas (no caso da relação entre um homem mais velho e um menino, por exemplo), por outro ponto de vista o sexo hoje parece mais banalizado na medida em que não se estabelece, como se estabelecia na grécia, uma relação da sexualidade com o sagrado.

O que pensam sobre isso?

Essa é uma questão delicada, porém não menos fundamental na minha visão. A sexualidade é algo presente na vida de todo indivíduo e da comunidade como um todo, em especial na família, onde é o delimitador de momentos. É inegável que o nascimento de um novo filho muda a estrutura da família...assim como o casamento de um dos membros que a compões, bem como a morte, que mesmo não parecendo tb tem um fundo sexual.
A sexualidade na Grécia é algo que deve (ao menos sob minha ótica) ser analisada com bastante .. sutileza. As relação de sexo, entre pessoas do mesmo sexo ou não ,têm um fundo mais que erótico. É algo quase que metafísico.. com a vivência aprendemos que o importante é a psyqué, a alma, o estar bem com a pessoa, tanto que a LIBERDADE DE ESCOLHA é um valor ressaltado quando se fala nesse assunto. Pederastia não posso considerar que existisse na Grécia, dado que as relãções eram diferentes e esse é um termo recente,e nunca , penso eu, foi tomado como importante. Mais que sexo, é afeto. Isso é mais uma das invenções da era comum (eufemismo pro cristianismo) , pois até onde me lembro das aulas de história, a relação sexual-social entre homene nuna foi problema atéo o início da Idade Média, mesmo porque os negócios eram fechados com selinhos bem sutis. rrsr

Bem.. o que quero dizer é que , em minha ótica, as relações sexausi visam ESTAR bem com alguém ,d aí o sexo desse alguém é apenas uma característica a mais ou a menos ....

Relações de Sexualidade com o Sagrado ,vide Dioniso ,Afrodite, Eros, Hermes.. Apolon ...


NO fundo relacionar-se (Sexual-afetivamente) com o sagrado é algo inerente em todas as relações homem-divino. É o sublime êxtase... a participação amigo-amigo...A relações como sagrado podem ser vistas quando se considera o valor da beleza .. todo mundo quer estar belo e merecedor do contato e presença dos deuses.. desde as Panetenéias até a Antestéia quando a Rainha da Pólis realizava o hiero gámos com Dioniso..

Para sexualidade, eu recomendo o livro "Amor, Sexo & Casamento na Grécia Antiga", de Nikos Vrissimtzis. Além disso, estarei postando ou hoje ou amanhã uma tradução de 16 páginas que fiz sobre casamento (provavelmente na parte de rituais de passagem), onde se inclui a sexualidade, o eros entre pessoas do mesmo sexo, e cita o erastes e eromenos.

Sobre a instituição Erastes/Eromenos e sua influência na educação helênica, recomendo os seguintes livros:

Henri-Irénée Marrou - "História da Educação na Antiguidade", S. Paulo, Editora Herder/EDUSP, 1965.Ver, principalmente, o Cap. III: "Da pederastia como educação".

K. J. Dover - "A homossexualidade na Grécia Antiga", S. Paulo, Nova Alexandria, 1994.

Bernard Sergent - "L'homosexualité dans la mythologie grecque", Paris, Payot, 1984.