Saudações iniciais

Sou Ricardo Mário Gonçalves, fui professor de História das Religiões na Universidade de S. Paulo, desde a infância encaro a tradição helênica com muito carinho e simpatia. Conheço muitos textos religiosos da antiguidade Greco-Romana e já estive na Grécia e em Roma. Um dos meus heróis favoritos é o Imperador Juliano, dito o Apóstata (361-363) que renunciou ao cristianismo e tentou reavivar o paganismo.Estou muito feliz em tomar conhecimento da existência deste grupo aqui no Brasil. Creio que poderei ajudar o grupo e também aprender coisas novas.

Bem-vindo, Ricardo!

Pelas referências que deste, vens pelo caminho certo. O Reconstrucionismo é reconhecido por ser um tanto 'acadêmico', até por estar sempre buscando na história e na arqueologia os dados e evidências que vão ser utilizados na formação desse reestabelecimento das práticas e crenças da Grécia Antiga, resguardando as devidas adaptações ao mundo atual. Como não existe uma "bíblia", fundamentamo-nos muito em publicações que respaldem nossas intuições e conhecimentos com o que era realizado na antigüidade e o que é esperado de nós pelos deuses, e por isso a História tem um papel muito importante em nos trazer essas informações, junto com outras áreas do saber e da ciência em geral.

Venho estudando a Grécia desde 1996, trocando informações com helênicos dos EUA e Europa, mas o primeiro site brasileiro (e em português) sobre a religião fiz só em março de 2003. O melhor de termos mudado este ano de 2008 para um fórum é que podemos conversar mais, como vieste te apresentar, em vez de ser apenas uma página de conteúdos.

Abraços...
Álex.

Salve, Alexandra!

Grato pelo atencioso retorno!
Passo-lhe mais alguns dados:
Conheci a Mitologia Grega ainda menino, lendo "O Minotauro" e "Os Doze Trabalhos de Hércules" de Monteriro Lobato. Já senti, então que minha alma era pagã, que o monoteísmo judeu-cristão não tinha nada a ver comigo...
Na minha carreira de historiador, dediquei-me principalmente às religiões orientais e à história da Maçonaria (sou dos que defendem a origem pagã dos ritos maçônicos...) mas nunca perdi de vista o Helenismo. Para mim foi muito importante conhecer oes estudos de mitologia indo-européia comparada de Georges Dumézil, que demonstram que as tradições greco-romanas e indianas possuem uma origem comum.

Meus autores antigos favoritos: Hesíodo, Plutarco, Apuleio, Virgílo, Ovídio, Horácio, Tíbiulo, Propércio, Catulo, Aulo Gélio ("Noites Áticas"), Macróbio ("Saturnais"), Plotino, Proclo, Porfírio, Jâmblico e, naturalmente, meu ídolo Juliano, dito "o Apóstata"...

Vi que V. trabalhou com Psicologia Junguiana. Tive a honra de trabalhar com a Dra. Nise da Silveira, a introdutora de Jung no Brasil, e de participar de seus seminários transdisciplinares no Engenho de Dentro, Rio de Janeiro. Participei de um fabuloso seminário sobre o Mito de Dionísio.

Identifico-me muito mais com o Paganismo do Império Romano Tardio (Baixo Império), impregnado de Neoplatonismo e Neopitagorismo e eivado de influências orientais do que com a religião da Grécia Clássica. Foi esse, aliás, o tipo de Paganismo que Juliano conheceu e praticou.

Atenciosamente,

Ricardo Mário Gonçalves

Oi de novo, Ricardo!

Um livro que trata da origem pagã da Maçonaria que eu li foi o de Dudley Wright "Ritos e Mistérios de Eleusis". Também já perambulei pelo rosacrucionismo e xamanismo, mas nada como no helenismo.

Sim, minha monografia da pós de Jung foi sobre Dionísio inclusive. Honra mesmo vc trabalhar com a Nise, o livro dela que resume a vida e obra do Jung é um dos melhores resumos que já vi para recomendar a leigos.

Neoplatonismo e neopitagorismo são mesmo interessantes, assim como o orfismo. Uma professora minha da pós era pitagórica, tinha até tatuagem com os símbolos deles. Ela dizia que só não era totalmente pitagórica no estilo antigo porque ela come feijão, ovo, carne etc.

Abraços...

Salve, Alexandra!

No meu caso, deduzi facilmente a origem pagã dos ritos maçônicos a partir dos estudos do historiador das religiões romeno Mircea Eliade (um dos colaboradores de Jung no grupo "Eranos") sobre os ritos e mitos iniciáticos onde é comum o tema "morte/renascimento". Quem conhece os ritos maçônicos e lê o "Hino Homérico a Deméter" e certas passagens de Plutarco e Apuleio sobre os Mistérios logo se descobre trilhando caminhos conhecidos. Por exemplo, em Apuleio (O Asno de Ouro) há uma trecho sobre uma "passagem através dos elementos", coisa que um maçom reconhece imediatamente... É um tema presente também na ópera "A Flauta Mágica" de Mozart, que transpôs para o palco algo da iniciação maçônica.

Quanto à Dra. Nise, guardo com muito carinho um exemplar de seu livro "Jung- vida e Obra" - que ela apelidara de "Junguinho" - autografado por ela.

V., que trabalhou com o tema de "Eros e Psiquê", certamente deve conhecer muito bem o livro em que a Dra. Marie-Louise Von Franz comenta o belo texto em que Apuleio narra esse mito.

Um grande abraço!

Adoooro Mircea Eliade! O mito do eterno retorno me inspirou também a falar de Dionísio.

Quanto a Eros e Psique, para preparar o seminário li mais os comentários de Erich Neumann sobre o texto completo de Apuleio.

Abraços...

Eliade é uma de minhas principais referências,conheço a obra inteira dele