Reconstrucionismo Helênico no Brasil (RHB)
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O que é Mitologia

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Mensagem  Ariano da Lacônia Qua Ago 05, 2009 7:24 pm

A mitologia helênica é uma das mais geniais concepções que a humanidade produziu. Os gregos, com sua fantasia, povoaram o céu e a terra, os mares e o mundo subterrâneo de divindades principais e secundárias. Amantes da ordem, instauraram uma precisa categoria intermediária para os semideuses e heróis. Grandes observadores, criaram novos nomes e figuras para os diferentes fenômenos da realidade natural. A mitologia grega apresenta-se como uma transposição da vida em zonas ideais. Superando o tempo, ela ainda se conserva com toda a sua serenidade, equilíbrio e alegria. Prodigamente, alimentou a literatura e as artes através dos séculos. A cultura ocidental deve-lhe muito do espírito e do sentido, senão do próprio fato de existir.
Os gregos não foram grandes políticos, nem criaram, militarmente, nenhum império coeso. Admite-se mesmo que seu espírito critico deve ser contribuído para sua fragmentação política em um punhado de pequenos estados. Mas levou-os ao mesmo tempo, a contemplação da vida, do mundo, do homem, para perguntar: qual é a origem dos seres!
A resposta que obtiveram não visava ao nada, nem a um deus criador, mas a um espaço aberto, que chamaram Caos, matéria informe à espera de ser organizada. Não podiam chegar ao nada, porque para os gregos o nada é impensável. Mesmo a sua temática ignora o zero. “Do não-existente nada pode nascer e nada pode desaparecer no nada absoluto”, diz o filósofo Empédocles (495 – 453 a.C.). Não chegaram a idéia de um deus criador, pois perceberem que tudo o que existia , embora regido por uma força vital única, apresentava vária formas, diferentes maneiras de ser, múltiplas funções, graus infinitos. Um deus criador único, segundo os gregos, não poderia ter deixado escapar uma variedade tão imensa e até contraditória de fenômenos, sem perder ele mesmo, deus único, a sua unidade criadora essencial.
Portanto, concederam o Caos, algo já existente, massa rude e carente de estrutura, onde forças intrínsecas e latentes poderiam, se organizadas, produzir e perpetuar a vida. O Caos não é, pois a desordem, a confusão. É a possibilidade de tudo. A sua ordenação não foi providenciada por um deus operando de fora. Ao contrário os próprios deuses nascem, de alguma maneira, dessa matéria. Pois é a Terra – condensação da matéria – que, em amoroso amplexo com o Céu dá origem às divindades primordiais.
O homem também nasceu assim. Por isso, o poeta Píndaro (518 – 446 a.C.) canta: “Igual é o gênero dos homens ao dos deuses, pois todos tiramos a vida da mesma mãe; apenas, uma força completamente diferente distingue os deuses”.
A força que ordenou o Caos deixou nas entranhas da Terra uma multiplicidade de poderes geradores, que engendraram todas as formas existentes na superfície terrestre: seres vegetais e animais, trazendo cada qual dentro de si o seu próprio dáimon (força misteriosa). A vida e suas manifestações são obra de um dáimon, que elas guardam como elemento responsável, também, por sua maneira de ser.
Aqui se encontram as raízes do mito, como tentativa penetrar, pela imaginação, os esconderijos do que não se explica de outra maneira: o mistério da existência.
Com a palavra mitologia designa-se dois conceitos: o conjunto de mitos e lendas que um povo imaginou e o estudo dos mesmos. A palavra vem do grego mythos, significando fábula e logos, tratado. O conceito de fábula não nos deve induzir a crer que o mito seja uma ficção caprichosa da imaginação. Dentro da narrativa mítica esconde-se um aspecto, um núcleo, que encerra uma verdade. A fábula, pelo contrário, refere-se a acontecimentos realmente imaginados e que não modificam a condição humana como tal. O mito relata uma “história verdadeira”, na medida em que toca profundamente o homem – ser mortal, organizado em sociedade, obrigado a trabalhar para viver, submetido a acontecimentos e imprevistos que independem de sua vontade. Dizer-se que sob uma forma “fabulada”, imaginária, a mitologia narra uma história do homem através dos milênios, não seria afastar-se muito da verdade.
É a história da criação do mundo, do homem, de múltiplos eventos cuja memória cronológica se perdeu, mas que se preservaram em uma memória “mítica”.
Para a consciência mítica, tudo deve ter tido a sua origem. Se esta origem ficou encoberta pelas trevas do tempo e do mistério, isto não significa que não possa ser recuperada pela imaginação. A realidade das coisas está aí a demonstrar a repetição das origens nos ciclos da vida. A temporalidade dos acontecimentos pouco interessa. Interessa, sim, o fato de que eles se repetem: e por isso são perenes.
O mito consiste nesta “história perene”: é a história dos acontecimentos que são eternos porque se repetem. Reconhecendo em cada ato cotidiano uma participação nos grandes ciclos da vida – que não são mais que a repetição dos ciclos-modelo narrados pela mitologia -, o homem sente-se participar da grande eternidade mítica, e liberta-se da sua transitoriedade. Integrado em suas origens, ele consegue, senão propriamente sobreviver, viver integralmente. Dentro da mentalidade mítica, a própria morte pode fazer sentido: é o fim da última repetição, e, por isto mesmo, a suprema reintegração nas origens.
Mas esta reconciliação do homem com a vida e com a morte (uma impossível sem a outra) mal podem distinguir-se da integração total com a natureza, especialmente a natureza viva. Através da mitologia – desde as mais primitivas até a mais moderna de suas formas, disfarçada em ficção cientifica – sempre o homem procurou compensar a distância que o separa, cada vez mais, no universo irracional. Este abismo o mito busca preenchê-lo, ao misturar todas as origens. Não apenas do mundo e do homem, mas também dos animais e das plantas: e tudo o que nasce, vive, é sexuado, organizado, se desfaz e morre – mas volta e continua.

Texto extraído do Livro Mitologia vol. I, Ed. Abril 1973
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Mensagem  Thiago Oliveira Qui Ago 06, 2009 11:58 am

Ótimo, só faltou o autor, neh... ??
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Mensagem  Ariano da Lacônia Qui Ago 06, 2009 6:27 pm

Pode deixar que eu to devendo isso mesmo, são dois livros de Mitologia, eu quero escanear as capas pra ilustrar mas to correndo aqui, como todos, são livros raros que depois de muito insistir consegui do meu pai, são obras em conjunto da editora abril cultura e time editora, livros otimos de formato grande e capa dura rica em ilustrações e detalha toda a mitologia grega, fico devendo os scaners e os autores.
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